Do resgate e apreensão à liberdade: o desafio de reinserir animais silvestres na natureza no interior de SP

O desafio de reinserir animais silvestres na natureza no interior de SP Conforme cresce a população brasileira, as áreas urbanas e construções também se e...

Do resgate e apreensão à liberdade: o desafio de reinserir animais silvestres na natureza no interior de SP
Do resgate e apreensão à liberdade: o desafio de reinserir animais silvestres na natureza no interior de SP (Foto: Reprodução)

O desafio de reinserir animais silvestres na natureza no interior de SP Conforme cresce a população brasileira, as áreas urbanas e construções também se expandem. No entanto, esse crescimento tem um custo para a fauna: milhares de animais silvestres perdem seus habitats. O avanço das cidades e de estradas reduz fragmentos de vegetação e reservas florestais, aumentando a proximidade entre seres humanos e animais. Nesse contexto, ocorrem apreensões por crimes ambientais, entradas de animais em residências e atropelamentos. Essas são algumas situações que demandam resgates especializados. Na região de Presidente Prudente (SP), de janeiro a 25 de novembro deste ano, a Polícia Militar Ambiental fez 158 resgates de animais silvestres, sendo que 25 deles precisaram ser encaminhados a centros especializados. 📲 Participe do canal do g1 Presidente Prudente e Região no WhatsApp Segundo o capitão Júlio César Cacciari, da Polícia Ambiental, o aumento no número de capturas não indica necessariamente uma maior ocorrência de animais na natureza, mas reflete uma conscientização crescente da população sobre preservação ambiental e a importância de acionar a Polícia Ambiental ao encontrar um animal silvestre. "Também contribui o número crescente de denúncias relacionadas à posse ilegal de animais, situação em que a corporação efetua o resgate e a destinação adequada", explica. APASS recebe animais silvestres de diferentes espécies e atua na reabilitação e saúde Stephanie Fonseca/g1 LEIA TAMBÉM: 'Uma sementinha que é plantada': tradição natalina com histórias e Papai Noel marca gerações em escola do interior de SP Jacaré é devolvido à natureza após resgate em frigorífico no interior de SP VÍDEO: Polícia Ambiental flagra degradação ambiental equivalente a 40 campos de futebol em fazenda no interior de SP Entre os animais mais atendidos estão aves silvestres, jabutis, tamanduás-mirins, gambás e ouriços-cacheiros. Segundo o oficial, as principais situações incluem a presença de animais em residências e comércios, animais feridos ou atropelados, filhotes isolados e denúncias de posse ilegal ou criadouros irregulares. O capitão explica que a presença de animais em áreas urbanas é comum e faz parte da convivência entre fauna e cidade, sendo motivado pela busca por alimento, água, abrigo, reprodução ou alterações ambientais como desmatamento e incêndios florestais. Ao receber uma ocorrência, a Polícia Ambiental avalia a situação, realiza o manejo seguro do animal e o transporta de forma adequada. Animais feridos ou debilitados são encaminhados a centros de triagem, como a Associação Protetora de Animais Silvestres (APASS), em Assis (SP), referência no interior paulista. Já animais saudáveis são reintroduzidos em áreas apropriadas, completando um ciclo de proteção e conservação da fauna. O capitão reforça orientações importantes para moradores: manter distância do animal, proteger o ambiente sem se colocar em risco e acionar imediatamente a Polícia Ambiental. Ele alerta ainda sobre o que não fazer: tentar capturar, tocar ou alimentar o animal, nem tentar "expulsá-lo" por conta própria. Uma das espécies abrigadas na APASS é a onça-parda (Puma concolor) Stephanie Fonseca/g1 Reabilitação e reinserção na natureza Localizada em Assis, a APASS atua como um Centro de Triagem e Centro de Reabilitação (Cetras). O fundador e presidente, Aguinaldo Marinho de Godoy, conta ao g1 que a instituição recebe anualmente entre 1.200 e 1.300 animais vindos de todo o estado, especialmente da região do Pontal do Paranapanema. Ao longo de 2025, a associação recebeu 82 animais de 17 cidades do oeste paulista, encaminhados por vários órgãos, como concessionárias de rodovias, polícia e moradores. A maioria foi resgatada em Teodoro Sampaio (SP), cidade que abriga o maior remanescente de Mata Atlântica do interior de SP. Animais recebidos pela APASS O trabalho é árduo e vai desde a triagem para classificar o grau de risco e saúde até a reabilitação com foco na soltura. "O sentimento que a gente tem, a gente pensa como se fosse um animal. Ele está lá internado com um diagnóstico eterno de dependência daquele hospital, e de repente o médico fala assim: 'Você teve alta. Pode ir embora que está tudo perfeito e você não precisa mais do tratamento'", comenta. APASS tem em seu plantel tucano-de-bico-verde, tamanduá-bandeira e anta Stephanie Fonseca/g1 Desafios por espécie A taxa de sucesso na reinserção varia conforme a espécie. Enquanto répteis são considerados mais independentes e adaptáveis, e as aves atingem cerca de 80% de reintrodução, os mamíferos representam o maior desafio técnico. Segundo Marinho, os mamíferos são o maior desafio. Muitos chegam filhotes e, durante a reabilitação, precisam de alimentação forçada ou de mamadeira, o que cria um vínculo com humanos. "Por causa disso, muitos filhotes associam o fornecimento de cuidado e comida com o ser humano. Esse é o grande complicador no pós-tratamento e na reabilitação", explica. Atualmente, a APASS tem mais de 20 onças-pardas (Puma concolor) em tratamento. Dessas, três jovens estão sendo preparados para soltura, pois tiveram mais contato com a mãe e apresentam instinto selvagem mais aguçado. As outras, no entanto, não têm condições de serem reintroduzidas e permanecerão na associação. Uma das espécies abrigadas na APASS é o araçari-castanho Stephanie Fonseca/g1 Nos répteis, o cenário é diferente. Marinho explica que espécies como tartarugas, jabutis, serpentes e lagartos são mais independentes. "O réptil geralmente não gera vínculo com o ser humano, nem mesmo com o tratador. Você pega um jabuti criado em casa há muito tempo, e, se soltar na natureza, ele sobrevive normalmente. Não tem aquela questão da afetividade. Eles são sinantrópicos: acostumam com o tratamento e com o ser humano, mas não têm a necessidade emocional de permanecer com ele", explica. Répteis são mais independentes e mais fáceis de reinserir na natureza Stephanie Fonseca/g1 De cadeirante à vida livre Um caso que foi exceção entre mamíferos e um dos mais emblemáticos da APASS foi o de um cachorro-do-mato, também conhecido como graxaim, chamado Max. O animal chegou à associação com uma lesão grave na bacia que o impedia de andar, utilizando uma cadeira de rodas improvisada. "Foi feita essa raspagem, fisioterapia, hidroterapia e acupuntura, e, aos poucos, ele evoluiu, articulando e começou a se movimentar de novo", lembra Marinho ao g1. Após um ano de tratamento e o resgate de instintos selvagens, Max foi solto em 2010 e nunca retornou à cidade, sendo considerado um caso raro de superação para mamíferos. Aguinaldo e Natália são responsáveis pela APASS, em Assis (SP) Stephanie Fonseca/g1 Sazonalidade e causas de resgate Segundo o presidente da associação, a demanda do centro é influenciada pelas colheitas e pelo clima. Durante os períodos de corte da cana-de-açúcar, cresce o número de animais atropelados por máquinas ou filhotes abandonados pelas mães que fogem do barulho. Já na estiagem, os animais atingidos por queimadas ou intoxicados pela fumaça buscam áreas urbanas em busca de alimento e água. Uma das espécies abrigadas na APASS é o bugio Stephanie Fonseca/g1 Riscos e orientações Ter um animal silvestre sem as devidas autorizações é crime, e tê-los sem conhecer os cuidados adequados para a espécie é uma forma de maus-tratos. Além disso, o manejo inadequado pode, inclusive, elevar riscos de algumas doenças como leptospirose e psitacose. O animal silvestre deve viver em vida livre: "Se está cortando a pena para ele não voar, quer dizer que aquele animal, se deixar ele solto, ele vai embora. Se ele vai embora, é porque ele não quer viver com o ser humano", destaca. A recomendação de Marinho é clara: "Se possível, e quiser adotar um animal porque ama animal, adota um gato, um cachorro. Não adquira um animal silvestre." De acordo com Marinho, a colaboração da população é fundamental para o controle de crimes ambientais e proteção da fauna silvestre. Caso presencie a venda clandestina ou maus-tratos, é possível denunciar: Linha Verde do Ibama: 0800-061-8080; Polícia Militar Ambiental: em Presidente Prudente o telefone é (18) 3906-9200; Delegacias: presencialmente ou online; Emergências: 190. Onça-parda, arara-canindé e filhotes de bugio e capivara são abrigados na APASS Stephanie Fonseca/g1 Outra orientação é consultar a Secretaria de Meio Ambiente do Estado antes de adquirir aves de criatórios para confirmar se a nota fiscal é verdadeira. "Caso fique sabendo que alguém está vendendo papagaio de forma clandestina, fazendo encomenda, vendo que o animal está em situação de maus-tratos, às vezes numa agropecuária, no pet shop ou alguém vendendo de forma particular, faça denúncia", conclui. A APASS sobrevive de parcerias com supermercados, concessionárias de rodovias e energia, além de contribuições articuladas pelo Ministério Público. Atualmente, o custo para manter a estrutura e os cerca de 800 animais do plantel gira em torno de R$ 140 mil mensais. O local abriga espécies com bugios, macacos-prego, antas, onças-pardas, tamanduás-bandeira, lobo-guará, araras-canindé, araras-vermelhas, papagaios-verdadeiros, periquitos-maracanã, tucanos, tucanos-de-bico-verde, araçari-castanho, cachorro-do-mato, tartarugas e jabutis. A partir de 2026, novas diretrizes do governo estadual e do Ministério Público devem cobrar dos municípios uma gestão de fauna mais rigorosa, aumentando a integração entre prefeituras e centros como a APASS. APASS recebe animais silvestres de diferentes espécies e atua na reabilitação e saúde Stephanie Fonseca/g1 Veja mais notícias no g1 Presidente Prudente e Região VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM

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